busca:

22.8.10

Cultura, ma non troppo

artigo publicado na página opinião em 11/04/2010 i
 
Teatros misteriosamente demolidos, goteiras a solapar músicos, refletores a atacar atores. Como em Campinas tais problemas são surreais, por que estranhá-los? Estranhos mesmo são os tipos públicos que geram a cultura da cidade. Porém, onde estão essas pessoas? Paradas em uma esquina, sentadas em uma sala? Para quem estão trabalhando na verdade? Se estiverem trabalhando. Talvez estejam sentadas no topo de uma montanha, meditando.

Há mais de 40 anos, cobra-se da Prefeitura a construção do novo teatro de ópera, a suprir o que foi demolido. Nos últimos anos, cobram-se reformas nos teatros que restam. Mas providências à deriva, em banho-maria.

De fato, o trombone burguês tem razão. Campinas está fora do roteiro dos grandes espetáculos, populares e eruditos. Não há dúvidas. A situação é especialmente ruim. Mas há um consolo teórico. Ainda que a cultura dominante seja aquela da ideologia dominante, considera-se aí a existência tanto de culturas como de ideologias dominadas. Claro, manifestações culturais implicam ideologias. Entretanto, não se limitam a elas. Não fosse assim, se desconheceria a autonomia relativa das diferentes formas de consciência cultural.

Cumpre, então, distinguir manifestações culturais geridas pela ação pública — nas quais o peso da ideologia às vezes é total — das manifestações culturais movidas por outras ações — cuja autonomia é maior. Como em Campinas pouco se conhece sobre aquelas, cabe verificar a ocorrência destas. Assim, apologia seja feita às manifestações culturais que independem diretamente da ação pública local. Antes, ressalva necessária. Este articulista declaradamente está no coro burguês que cobra da Prefeitura medidas para recolocar Campinas no roteiro dos grandes espetáculos, no entanto, discorda de alguns do coro que afirmam não haver manifestação cultural alguma na cidade. À apologia.

Que façanha é esta de tornar compreensível a verborragia acadêmica das melhores universidades do País? Façanha das palestras semanais do Café Filosófico CPFL Cultura. Dignos de nota também são os programas de música erudita contemporânea e de teatro da mesma CPFL Cultura. Com relação às artes cênicas, igual defesa dos eventos promovidos pelo Sesc-Campinas, bem como dos eventos musicais, a incluir os shows no galpão. Há também importantes grupos teatrais locais (para estes, vale um artigo inteiro a defendê-los). Para cinéfilos, há os cursos e os debates do Museu da Imagem e do Som (MIS), os encontros da Casa do Lago e o Cine Topázio que dispõe filmes alternativos e transmissões de óperas. Defesa ainda dos cursos da Oficina Cultural Hilda Hilst e também das dezenas de outros pontos de cultura da cidade os quais o parágrafo não alcança.

Malgrado apelo publicitário em alguns casos, todas essas manifestações resguardam a autonomia artístico-cultural dos eventos. Muitos, gratuitos. Sim, é possível. Bons eventos artístico-culturais gratuitos. Valem as dicas sobre tais e tantas outras manifestações em cultcps.blogspot.com e também diariamente no Caderno C do Correio.

Logo, há cultura. Mas não muito. Não suficiente para Campinas, apesar da ocorrência daquelas significantes manifestações. Insuficiência justamente de grandes espetáculos, populares e eruditos. Sem as iniciativas públicas locais não é possível tê-los. Sem teatro. Sem luz. Sem cena. Nem a ideia ocorre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário